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Minha babá Noreen usava longas unhas de acrílico pintadas de rosa metalizado que, para meu “eu” de 5 anos, eram o símbolo do glamour. Adorava observar suas mãos enquanto preparava um queijo-quente, penteava o cabelo com os dedos usando mousse com aroma de melancia ou torcia o fio do telefone enquanto batia papo com seu namorado, Gene. Mesmo quando uma de suas unhas quebrou e ela teve que segurá-la no lugar com uma fita, eu ficava em êxtase por conta do je ne sais quoi de ser uma mulher com unhas para exibir, e tentava imitá-la colocando morangos nas pontas dos meus dedos.

Apesar de a minha mãe artista ter sido uma clean girl antes de haver um nome para a estética – usando ternos de caimento folgado da Comme des Garçons e cortando suas unhas curtíssimas –, eu colecionava esmaltes e os enfileirava no parapeito da janela do meu quarto como se fosse a orgulhosa proprietária de um verdadeiro arco-íris. No colegial no Brooklyn, unhas longas enfeitadas com cores do pôr-do-sol ou desenhadas com marcas de pneu de caminhão se tornaram um acessório desejado. Assim como tantas coisas boas, as nail arts foram adotadas da estética hip-hop, principalmente dos looks de personalidades como Lil’ Kim e Foxy Brown, que tinham como stylist Misa Hylton, e influenciaram todos nós nos anos 90 – e ainda influenciam.



Nos meus 20 anos, continuei a associar unhas elaboradas com expressão pessoal. E, nos salões de nail art em Nova York, assistia com inveja a uma dançarina burlesca aplicar postiças com muitos centímetros de comprimento cravejadas com rubis falsos ao meu lado. Quando cheguei aos 30 anos, uma combinação de maturidade, praticidade e a fadiga que vem com o aumento de responsabilidades fez com que o mais perto que cheguei de apostar em unhas estilosas foram algumas camadas de esmalte para uma ocasião especial.

No restante do tempo, limpava-as quando estavam sujas e cortava-as rapidamente ao começarem a parecer desiguais ou roídas por conta do estresse. Mas, quando a greve dos roteiristas aconteceu no verão passado [os escritores de Hollywood ficaram paralisados por quase 150 dias – de maio até setembro de 2023 – para reivindicar melhores condições de trabalho], me vi com tempo livre. E então me joguei em uma temporada de unhas glamorosas: quanto mais longas, melhor.

Me inspirei em musas como a Mulher Gato de Zoë Kravitz, em Lana Del Rey no início da carreira, ou Lil’ Kim combinando suas unhas com adesivos de cobrir mamilos. Comecei um álbum no Pinterest, curtindo padronagens como os chevrons dos anos 70, arlequim medieval, florais estonteantes e versões pretas no formato stiletto, que eram como se Mortícia Addams estivesse a caminho de uma rave em Berlim. Cada e-mail que escrevia, parecia uma ocasião.

Não importa a maneira como você se veste no dia a dia, sua expressão de gênero ou sua idade, não há nada como uma unha chamativa para que todo ponto que você defenda esteja, bem, apontado. Amei cada segundo da experiência. Sim, exigiu ler um artigo surpreendentemente longo sobre como escrever mensagens de texto com unhas compridas (dica de quem passou por isso: use a lateral de seus polegares, como se estivesse jogando um videogame) e eu tive de carregar comigo pinças para me ajudar a remover meu cartão de crédito da máquina do caixa eletrônico.

Porém, o que perdi em eficiência, mais do que compensei na sensação de glamour chique que meus recém-enfeitados dedos me davam. Mas o verão sempre se transforma em outono e, quando nossa greve terminou (eba, conseguimos!) e era hora de voltar ao trabalho, ficou claro que, para mim, as unhas longas seriam um obstáculo em tudo, desde folhear as páginas no set até abotoar meus jeans e amarrar meus tênis (o meu guarda-roupa dos meses anteriores tinha sido composto, principalmente, por vestidos de algodão à prova de unhas longas e antigos Adidas que eu conseguia calçar apenas ao deslizar o pé). E assim elas foram embora, revelando o tipo de unhas craqueladas que você veria na seção “antes” de um comercial às 3h da manhã.

Então, quando a Vogue sugeriu que eu fizesse a experiência de usar durante uma semana unhas no estilo clean girl e em outra semana um visual mais ousado, aceitei de bom grado. Ainda mais que a nail artist que trabalharia comigo seria Michelle Class, que tem entre sua lista de clientes nomes como Kate Moss (um dos maiores exemplos da estética minimalista) e Lilly Allen (sem tempo para a tendência da unha curta, segundo me contou Class). Primeiro tentaríamos o momento mais audacioso e, em seguida, o visual minimal que foi destaque nas passarelas do verão 2024, em que muitos desfiles optaram por nail arts inspiradas no viral glazed donut e no balletcore .

Mais tarde, quando meu marido voltou para casa e perguntou por que eu não havia terminado de colocar a capa do edredom, simplesmente levantei e mostrei minhas novas e extravagantes unhas de gel em formato amendoado – que eram nude, tinham as pontas pintadas na padronagem casco de tartaruga e traziam um arco dourado para finalizar. Esta matéria foi originalmente publicada na edição de Julho da Vogue US. Traduzida por Fabiana Skaf.

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