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Fato curioso do universo esportivo amador em 2024: ou você conhece alguém que começou a correr ou você é esse alguém. É verdade que a corrida de rua sempre atraiu multidões, mas agora, com a ajuda da geração Z e do “corri, postei” das redes sociais, ela foi alçada à categoria de esporte cool – e sexy. Os puristas dizem que é modismo, os caçadores de tendências dizem que correr uma maratona foi a saída que a galera de 30 e poucos anos encontrou para trazer propósito a uma antecipada crise da meia-idade.

Fato é que, se antes bastava calçar um tênis e sair para cumprir a planilha de treinos, agora, o que se vê no universo da corrida é uma reunião de gente em suas melhores roupas fitness , pronta para rodar as cidades correndo e esticar o rolê em boa companhia. Não à toa, vários conteúdos bem-humorados têm inundado as redes sociais afirmando: “Quando os aplicativos de relacionamento não funcionam mais, é hora de você ir a um grupo de corrida”. E, se você acha que corrida e flerte não dão match, é porque ainda não participou de um desses grupos.



“Você já foi correr no Parque Ibirapuera em uma quarta-feira de manhã ou no campus da USP aos sábados? É o que há, eu me apaixono a cada cinco minutos”, brinca Lara d’Ávila, criadora de conteúdo e relações-públicas, que, após o término de um relacionamento, decidiu voltar à corrida, modalidade que já havia praticado, mas da qual estava afastada. “O esporte é sempre a melhor alternativa para retornar a si mesma, porque, além de ser um lugar de autocuidado, é uma maneira de conhecer pessoas que têm um estilo de vida parecido com o seu. A corrida me fez conhecer muita gente interessante.

” O grupo que Lara procurou no seu retorno às pistas de corrida foi a MP Run, da empresária e triatleta Marina Pumar. “Minha experiência própria mostrou que ser iniciante nesses grupos é difícil, por isso, quis criar um lugar para que as mulheres se sentissem acolhidas”, explica a criadora. A grande diferença é que, nas assessorias esportivas, o foco está muito mais na evolução pessoal e na performance, já nos chamados crews , a ideia é correr de forma mais livre, sem trajeto, distância e ritmo obrigatórios.

O ambiente descontraído acaba privilegiando a socialização e os encontros de pessoas com interesses em comum. “Estamos até fazendo camisetas com os arrobas dos nossos perfis no Instagram estampados nas costas para facilitar os contatos que acontecem durante o treino”, se diverte Lara. De olho no potencial de relacionamentos – amorosos ou não – nos grupos de corrida, Marina está organizando dois encontros, uma night run em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, que juntará os corredores da MP Run e da Marun Running Crew, grupo de corrida carioca que parte semanalmente da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Em terras cariocas, outras crews como a 5am.running.club, que usa o slogan “Corre cansado, mas nunca sozinho”, e a Arte Corre Crew, que reúne artistas que também são atletas amadores, vêm ganhando seguidores na esfera virtual e nas pistas.

Em Belo Horizonte, as ruas são tomadas pelo Calma Clima, enquanto, em Porto Alegre, é a turma do Salve - Clube de Corredores que comanda. Prova de que essa é uma tendência que extrapola os virais de redes sociais é que empresas como o Strava, aplicativo de monitoramento de treino queridinho entre os atletas, estão de olho nessa movimentação: “Temos acompanhado as trends e nos divertimos com os vídeos criativos que rolam. Nos últimos meses, fomos procurados pelas principais plataformas de relacionamento e, entre elas, escolhemos o Happn para uma ativação na semana do Dia dos Namorados no Brasil”, completa Rosana Fortes, gerente do Strava no Brasil.

Quem está na pista também tem dado novos usos para antigas funcionalidades do aplicativo, como a ferramenta “atividades em grupo” ou “flyby”. Lara d’Ávila, que já testou as diferentes utilidades, explica: “Se você e outro atleta com conta no Strava correram por alguns minutos próximos um do outro, essa informação ficará disponível para ambos ao final do treino (é possível desabilitar a função). Aí é só você mandar uma DM pelo próprio aplicativo”.

A funcionalidade de envio de mensagem direta, inclusive, foi criada atendendo a pedidos dos usuários. “Somos a maior comunidade de atletas do mundo e, com certeza, muitos que estão ali querem se conectar e conhecer outros membros. O envio de mensagem direta, a DM, era um pedido frequente, e liberamos no fim de 2023.

” Na mesma onda dos conteúdos bem-humorados sobre o tema, há quem diga que o Strava é o novo aplicativo de relacionamento. Com cada vez mais pessoas reclamando sobre a dificuldade de se relacionar, os grupos se tornaram locais seguros para que encontros possam acontecer. De acordo com uma pesquisa de 2019 realizada pelo Pew Research Center, quase metade dos norte-americanos com mais de 18 anos sente que ir a dates se tornou mais difícil na última década, principalmente pelos riscos físicos e emocionais e pela natureza impessoal dos encontros.

Para Bernardo Biagioni, fundador do Calma Clima, grupo de corrida mineiro que reúne semanalmente cerca de mil corredores e corredoras para ocupar Belo Horizonte, o que faz com que esses espaços tenham se tornado facilitadores de relacionamentos, sejam de amizade ou românticos, é exatamente o fato de serem ambientes seguros. Ali, as pessoas se sentem à vontade porque sabem que não vão ser assediadas, assaltadas, o corre é junto, ninguém fica para trás. Seria até natural que o flerte fosse descarado, mas não é, é educado, equilibrado, respeitoso.

A gente se aproxima dos interesses do outro, começa a correr e encontrar afinidades. Quando eu estava no ambiente de corrida voltada para a performance, eu sentia que era uma jornada muito solitária, no grupo a gente está junto. Aí a mágica acaba acontecendo”, explica Bernardo.

Foi no Calma Clima que a executiva Daniela Scheuermann e o economista Leo Duarte se conheceram. “Eu sou de São Paulo e, quando me mudei para BH, não conhecia muito bem a cidade. Quando ouvi falar do grupo, passei a frequentar toda semana.

Lá, conheci pessoas e fiz amigos. Até que, em um dos corres, encontrei o Leo. Ele estava ajudando na organização e compartilhou um pouco do percurso comigo.

Como os encontros eram semanais, a gente foi se aproximando, conversando, descobrindo afinidades. Ficamos juntos depois de uma corrida, que terminou em um festival, e não nos separamos mais. O namoro já tem cinco anos.

” Ao que tudo indica, o trote paquera pode ir longe..

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