Em 7 de junho deste ano, a cantora Charli XCX lançou o seu sexto álbum, "BRAT". Popular entre os fãs da música alternativa, mas não tão conhecida (até então) pelo mainstream , os singles do disco já mostravam o potencial do lançamento, que bebiam diretamente da cena club em sua sonoridade e estética, é verdade. No entanto, é seguro dizer que foi a cor verde fosforescente da capa do disco , que tomou as redes sociais em formato de memes antes mesmo de seu lançamento, que conseguiu prever o efeito inescapável que o projeto teria de fato.
Afinal, "BRAT" se tornou o sinônimo de um estado de espírito divertido, confiante, e livre, apelidando o verão 2024 do hemisfério norte, e até sendo associado as qualidades da candidata a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris . "É aquela garota que é um pouco bagunceira e gosta de festejar, e talvez fala algumas coisas bobas de vez em quando. Ela é honesta, direta, e um pouco volátil", disse Charli XCX em uma entrevista para o TikTok sobre o que é ser "BRAT".
A descrição corresponde perfeitamente ao estilo "indie sleaze" , termo criado por Mandy Lee, que referencia a moda e o lifestyle vivido pelas celebridades nos anos 2010, que referencia o estilo do indie e do rock 'n' roll dos anos 1990 e 1980. Resultando em um estilo ousado e um tanto quanto "despreocupado". Esse estilo de vida parece estar sendo trazido de volta pela cantora, desta vez, com a música pop em destaque, e outras personalidades fashionistas da atualidade.
O estilo "BRAT" referencia, principalmente, a época em que Charli começou a trabalhar na música, quando era apenas uma adolescente, mas já frequentava festas underground da cena britânica. Por isso mesmo, os looks dessa "era" de sua carreira são feitos sob medida para noites inesquecíveis. Peças já rasgadas e destruídas (inclusive, até em seu vestido para o MET Gala, assinado pela Marni!), assimétricas, ou com decotes estratégicos são indispensáveis, sempre com um apeal sensual, mas que parece ser orgânico, naquele estilo "coloquei a primeira coisa que vi pela frente".
Além disso, a beleza é uma grande parte do estilo "BRAT", com os olhos sendo o destaque, sempre aparecendo com lápis de olho e esfumados, outra grande característica do "indie sleaze". Para capturar seu styling afiado, é preciso um fotógrafo que entenda mais do que a moda, mas o lifestyle que está sendo vivido na era "BRAT". Por isso mesmo, Charli recrutou Myles Hendrik , conhecido da era "indie sleaze", para clicar sua festa de aniversário.
Além de Myles, a cantora também teve a presença de outro fotógrafo da cena noturna, Cobrasnake . Os convidados são uma parte indispensável do espírito "BRAT" de ser. Entre eles, estavam alguns destaques que são cruciais para esse lifestyle .
Começando por Gabbriette , modelo de campanhas da Versace e Marc Jacobs, e ex-vocalista da banda punk Nasty Cherry (criada, inclusive, pela própria Charli), que viralizou com suas receitas no TikTok, e seu look gótico dos anos 1990 (muito inspirado, principalmente, em Angelina Jolie ). A jovem de 27 anos, que é noiva do polêmico vocalista da banda inglesa The 1975, até virou musa de uma das canções de Charli, na faixa "360", cantando "Eu sou sua referência favorita / Me chame de Gabbriette, você está tão inspirada" . Ao lado de seu rato de estimação, ela mistura moda, mistério, e registros sem filtros nas redes sociais, que se tornaram febre até na indústria da beleza, com seu "lip combo", ou seja, os produtos que usa para desenhar e pintar seus lábios, se tornando febre na MAC, e esgotando por todo o mundo.
Outra it girl do estilo "BRAT" de ser é Addison Rae . Aos 23 anos, a jovem, que se tornou uma das influenciadoras mais famosas do mundo na pandemia por seus vídeos de dança no TikTok, virou uma musas cult da atualidade. Isso porque ela, que agora se arrisca como uma cantora pop (e está sendo abraçada pela comunidade LGTBQIAP+ nas redes sociais), parece incorporar o estilo Y2K , que referencia os anos 2000, em seu estilo ultra feminino e divertido, e em seu uso das redes sociais, com fotos nada posadas, e até utilizando filtros caricatos de quando o Instagram foi fundado, em 2010.
Seu estilo autêntico fez com que ela cantasse no remix de "Von Dutch", com Charli , e até estrelasse na campanha da marca de roupas da fotógrafa de tudo que é cool , Petra Collins . Uma fonte que mistura o espírito "indie sleaze" com a moda "Y2K", é referenciar o Tumblr, rede de blogs que era febre nos anos 2010. Além de Addison, outra it girl de Charli parece fazer isso cada vez mais.
É o caso da modelo e empresária Devon Lee Carlson que, com sua empresa de capinhas de celular, Wildflower, está trazendo de volta a estética de fotos e moda que estavam em alta na época, e influenciaram toda uma geração de jovens meninas para sempre. Com camisetas que referenciam músicas da época, como "Bitch Don't Kill My Vibe", de Kendrick Lamar, lançada em 2012, calças e shorts jeans rasgados, e até modelos de layouts que dominavam o site naquela época, Devon (e seu sorriso) foram referenciados por Charli na música "Speed Drive", feita pela inglesa para a trilha sonora de "Barbie". Da estética que incorpora o espírito party girl , até o gótico dos anos 1990, e passando pelo estilo irreverente dos anos 2000, todas essas it girls tem algo em comum: a descrição que Charli fez para o que é ser "BRAT", e como isso combina perfeita com o espírito "indie sleaze".
A nostalgia na moda, a vulnerabilidade nas redes sociais, e a autenticidade marcam uma nova geração que não tem medo de criar, referenciar o passado com responsabilidade, e valorizam a diversão da vida real mais do que apenas para posar nas redes sociais. Por isso, fica aqui o nosso voto para que o verão "BRAT" possa se tornar um estado de espírito independente da estação..
