Pós-quiet luxury, os anos 20 são a tendência da próxima temporada
As passarelas de Milão avisam: as melindrosas poderão sair novamente às ruas Quando a década de 2020 começou, muitos esperavam um revival do estilo flapper dos anos 1920 – uma era marcada pela emancipação feminina, ousadia e liberdade de expressão. Mas muitos baldes esfriaram nossos ânimos: uma pandemia global, novos conflitos internacionais e um acirramento da polarização política, estimulado pelas redes sociais. O resultado foi uma moda que encaretou e pendeu para o “luxo quieto”, com tons neutros e silhuetas sóbrias dignos do seriado "Succession". Finalmente, os anos 20Getty Images e DivulgaçãoMas talvez nem todo mundo esteja disputando a cadeira do chefe da família, e algumas pessoas considerem que a felicidade está em outros lugares. A mais recente semana de moda de Milão começou a apontar para esse novo horizonte. Apesar das dificuldades enfrentadas pela indústria, incluindo restrições orçamentárias e uma forte dança das cadeiras de estilistas e executivos, está rolando um esquenta para a grande festa do design no ano que vem: o centenário da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Indústrias, aquela que oficialmente lançou o estilo art déco. Este ressurgimento não é apenas uma referência nostálgica ao passado, mas um grito de desejo por liberdade, autoexpressão e alegria diante da adversidade. FendiLaunchmetrics SpotlightA silhueta dos anos 1920 trouxe uma verdadeira revolução ao seu tempo, sendo marcada por formas retas e alongadas que retiravam o foco da cintura e do busto. Os vestidos de cintura baixa, com saias mais curtas e cortes soltos, proporcionavam uma inédita liberdade de movimento. Cada um a seu modo, Gucci, Dolce & Gabbana e Fendi apresentaram coleções que ecoavam o espírito dos “anos loucos”, ao mesmo tempo que infundiam toques contemporâneos.GucciLaunchmetrics SpotlightNa Gucci, trabalhos intrincados de miçangas e detalhes de franjas até nos casacos deram uma animada no estilo neominimalista de Sabato de Sarno. Em sua homenagem a Madonna, a Dolce & Gabbana abraçou os anos 1990 e amarrou o corpo das modelos com espartilhos, suspensórios, vestidos-lápis e sutiãs cônicos meia-taça. Mas as peças em lingerie, usadas como roupa externa, não deixam de ser uma ousada referência à rejeição dos anos 1920 às roupas íntimas restritivas. Ah, claro: Domenico e Stefano também capricharam nas franjas brilhosas. Dolce & GabbanaLaunchmetrics SpotlightJá a Fendi foi a mais literal de todas, muito também por conta de outro centenário: o seu próprio, que será celebrado em Roma no ano que vem. A marca nasceu na década de 1920, e o art déco desde então se fez presente de alguma forma em seus casacos, logos, sapatos e silhuetas, sob o gosto de formas geométricas. O estilista Kim Jones (que anunciou sua saída da grife no início deste mês), no entanto, deu à melindrosa seu toque particularmente inglês, na forma dos tecidos leves e transparentes com bordados minuciosos de cristais e o uso de botas de trabalho Red Wing para quebrar a elegância tubular. GucciLaunchmetrics SpotlightRevistas NewsletterO retorno das franjas, um detalhe quintessencial da época, adiciona movimento e ludicidade às peças, refletindo um desejo coletivo de se libertar das restrições dos últimos anos que vivemos. Acabamentos metálicos, reminiscentes do amor da Era do Jazz por tudo que brilha, reclamam otimismo e celebração em tempos incertos. FendiLaunchmetrics SpotlightAs melindrosas originais foram pioneiras da primeira onda feminista, desafiando convenções ao fumar em público, frequentar bares, namorar livremente e lutar pelo direito ao voto e à participação no mercado de trabalho. Este revival pode servir como um lembrete do poder da moda para refletir o zeitgeist e moldar movimentos culturais. Por um mundo menos quieto e restritivo. E mais provocador. Dolce & GabbanaLaunchmetrics SpotlightGucciLaunchmetrics Spotlight